A carne mais consumida no mundo
É o porco e, por isso, a suinicultura assume um papel importantíssimo na produção animal e consequente alimentação humana – Portugal é um dos maiores produtores da Europa pelo método de inseminação artificial. Mas isso agora não interessa nada. Interessa que o porco pode pode tanto ser para matar como para mimar, menos usual, enquanto animal doméstico.
De onde vem a matança do Porco?
Tradição secular que representa, para uns, fartura e abundância e brutalidade repugnante, para outros, é uma prática que se mantém em registo de festejos de Inverno nesta altura do ano.
No nosso país, a matança do porco ocorre um pouco por todo o lado do Alentejo ao Minho e, consta-se, nem mulheres nem crianças devem assistir ao ritual por influenciarem emocionalmente o matador com esgares e palavras de compaixão.
Percebo bem. Os guinchos que o porco produz, enquanto cortam o dele, cortam-nos o coração – tamanha a semelhança com gritos humanos.
Tradição é, cultura, tradição
De repente, para o porco obviamente já que para quem organiza os festejos tudo é minuciosamente preparado, a faca entra-lhe no coração e o sangue fervente grita a jorrar desconhecendo ainda o sarrabulho.
Chouriços, morcelas, toucinho e torresmos saem do lombo do porco que, esquartejado será até sumir. No dia anterior as mulheres juntam-se a espetarem, também elas, a faca. Mas nas cebolas. voltando à frente, confesso que o cenário todo seguido e acertado me causa náuseas, o porco é chamuscado, lavado e esventrado.
Não faltarão histórias antigas
sobre a tradição que está a ganhar cada vez mais adeptos: recuperar o ritual através da recriação é o que se faz, por exemplo, em Vieira do Minho no sentido de se promover o que o Concelho tem de mais genuíno, onde se inclui a matança do porco, promovendo-se, desta feita, igualmente, o turismo na região.
Em tentativa de oferecer resistência à modernidade, fixando-se a tradição, é o objectivo de iniciativas locais – um outro exemplo parte de Miranda do Corvo que criou a Real Confraria precisamente para revitalizar e preservar o hábito secular da matança do porco. O salgar da carne tem vindo a ser substituído por arcas frigoríficas e, perante a tentação de se comer a carne sempre fresca, a população mais antiga tem vindo a avançar na tradição. É preciso travar o progresso, afinal, gritam ecos por todo o lado.
Do porco morto e matado só não se come a bexiga que também tinha, em outros tempos, a sua utilidade: enchida com ar transformava-se em uma bola tamanha a criatividade, para comer e brincar, acerca do animal.
Os festejos costumam durar, entre a fartura de comida e bebida e diversão, um dia inteiro. Depois chega a noite e o cansaço e também a garantia de que no ano vindouro haverão mais porcos, mais facas, mais sangue e, bem visto, mais vida.