As preferências do veado
O veado é um dos atractivos das montarias: animal de grande porte, o maior dos cervídeos, ágil e prudente, é de pasto mas recorre igualmente ao estrato arbustivo e arbóreo onde, com a sua grande corpulência, atinge com facilidade a rama de algumas árvores.
Gosta das folhas de sobreiro, azinheira, castanheiro, carvalhos, oliveira, zambujeiro, ulmeiro, freixo, choupo e figueira, entre outras, e tem preferência especial por bolotas (de carvalho, sobreiro, azinheira, carrasco), castanhas, frutos de pilriteiro, azeitonas e figos. Faz também parte da alimentação do veado alguns cogumelos, líquenes e casca de algumas árvores como a oliveira, o zambujeiro e o ulmeiro.
O cio poligâmico
Chega o Outono, e inicia-se o cio do veado – que se prolonga mais ou menos por um mês: reúnem-se em agrupamentos mistos formados por um macho e várias fêmeas, pois o número de cervas por grupo de fêmeas varia essencialmente com a relação macho/fêmea existente no local e igualmente com a densidade populacional. São grupos bastante homogéneos, ou seja, cada grupo tanto pode ser constituído por um veado e uma cerva como por um veado e dez a vinte cervas (estou aqui a pensar no desgosto delas a cada vez que um montador acerta num veado tão necessário).
Como fazem os haréns
O veado delimita muito bem, e com antecedência, a área em que vai estar com as fêmeas – para isso vai, através do seu cheiro, impregnando árvores e arbustos onde se esfrega e por vezes, não raras, há confrontos violentos entre machos neste processo. Ouve-se a brama – o grito do desafio, ronco seco, profundo e prolongado, que faz lembrar o berro de um touro, lá para os finais de tarde, e que pode prolongar-se até às madrugadas. Coisas de veados (ou de machos em geral?). É que nos restantes meses do ano os machos adultos e as fêmeas separam-se, formando grupos distintos, enquanto que os ainda jovens, até um ano de idade, permanecem geralmente no agrupamento das fêmeas (não há aqui uma vincada semelhança com aquilo que é idealmente ser confortavelmente homem?)
As hastes,
que são também o troféu das montarias, ocorre todos os anos na Primavera: caem primeiro nos animais mais velhos e os noviços com dois anos são os últimos a perdê-las. Enquanto não se forma a nova cabeça de hastes imponentes, os machos escondem-se no mato e, sendo bastante difíceis de observar, os montadores têm grande dificuldade em caçá-los: veado, nem vê-lo.
Como é o parir
As fêmeas, que começam a reprodução aos dois anos, sempre em Abril, só muito raramente parem duas crias e quando nascem, os bebés veados, estão sempre junto das mães pelo menos durante as primeiras duas semanas de vida. Depois reúnem-se, mães e crias, e juntas amamentam e são amamentadas até à altura do cio seguinte – uma beleza, esta natureza de veado. Quero dizer, de cervas.