Suspeitas de intoxicação
Em toxicologia clínica, quando se é confrontado com um caso suspeito de intoxicação de gado, normalmente o caso possui um carácter agudo. Desta forma, e dada muitas vezes a inespecificidade do quadro sintomático apresentado, pode definir-se uma estratégia geral de tratamento das intoxicações, sem prejuízo da sua alteração em tempo útil caso a etiologia seja, entretanto, identificada.
Como se trata?
A abordagem geral de um caso agudo de intoxicação segue os seguintes passos:
- Estabilização dos sinais vitais;
- Evitar a absorção de mais agente tóxico;
- Administrar um antídoto se estiver disponível;
- Facilitar a remoção ou eliminação do tóxico;
- Aplicar terapia de suporte e monitorizar o animal.
A Estabilização dos sinais vitais
Durante esta fase deve-se tentar garantir a estabilização dos sinais por forma a preservar a vida do animal e, assim, ganhar tempo para se poder depois desenvolver as estratégias necessárias à desintoxicação.
Avaliar e garantir o correcto funcionamento da função respiratória, que pode ir eventualmente até ao recurso a intubação endotraqueal e/ou respiração assistida, é o mais importante. A função cardiovascular deve ser controlada, não só quanto ao funcionamento do coração a nível de disritmias, como também a nível de volémia, através da administração de fluidos e correcções de equilíbrio ácid-base.
A nível do sistema nervoso central, devem ser controladas as alterações presentes, nomeadamente eventuais estados convulsivos, a hiperactividade ou a depressão. A temperatura corporal deve ser mantida dentro dos valores fisiológicos e, conforme as situações, pode-se ter uma temperatura corporal inferior ao normal (hipotermia) ou superior ao normal (hipertermia) – por exemplo nos estados convulsivos.
Prevenção da absorção de agentes tóxicos em toxicologia Clínica
A prevenção da absorção de agentes tóxicos, em toxicologia clínica, tem por objectivo evitar que a sua concentração sistémica aumente agravando, desta feita, o estado do animal. Uma técnica simples usada ao nível digestivo do gado, e de qualquer animal, é a diluição do veneno através da administração de líquidos por via oral cuja eficácia, porém, é reduzida. As técnicas de maior eficácia, ainda no sistema digestivo, passam
- pelo recurso à emese (indução do vómito) em espécies em que tal seja possível e também nas situações em que não esteja contra-indicada;
- pela lavagem dos reservatórios gástricos (estômago, papo ou rúmen) com água misturada com uma substância que vá evitar uma maior absorção do veneno. Na lavagem dos reservatórios gástricos costuma-se utilizar o carvão activado, pela sua eficácia em casos inespecíficos, embora se se souber qual o veneno que está presente se possam utilizar algumas substâncias específicas;
- pelo recurso a enemas, laxativos ou – mais raramente – a técnicas como a gastrotomia ou enterotomia, ou técnicas endoscópicas.
No caso do contacto ocorrer com o globo ocular, deve proceder-se à sua lavagem com soro fisiológico. E no caso da exposição dérmica devemos proceder à sua remoção através de lavagens.
Administrar um antídoto se estiver disponível, facilitar a remoção ou eliminação do tóxico e aplicar a terapia de suporte e monitorizar o animal serão os passos seguintes na prática de toxicologia clínica para o tratamento de intoxicações no gado.
Comentar